segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre inferno astral, karmas e afins...

Ando mesmo muito antissociável, a única coisa que me motiva ultimamente são uns poucos livros adquiridos, e o computador que me joga no mundo dos meus-outros sem sair da minha cama(com quem mantenho uma relação de intimidade visceral). Quero atribuir essa incapacidade ao período natalino, a um suposto inferno astral(que antecipei apenas para justificar a dor), as dificuldades de ordem prática. Outras horas quero crer que deve ser sina, destino, carma ou qualquer coisa que explique essa minha dificuldade de caber, de me inserir, de fazer parte. Uma vez alguém me disse que o meu problema era criar expectativas demais em relação as pessoas, na época concordei, mas hoje eu sei que o problema são as expectativas que lanço sobre mim, elas são medidas no limite do que considero ideal, inalcançáveis de fato, dessa feita nem alcanço nem caibo, ficando a meio caminho entre quem sou de fato, que talvez conseguisse viver, e quem quero ser para atingir as tais expectativas inatingíveis. Não consigo saber o saldo desse ano, que foi de uma crueldade incompreensível, sei que ele virá, nem que seja através das lições tiradas em máximas de auto ajuda que postarei, ou arrotarei como pérolas aos porcos. A única certeza que eu tenho nem sequer é minha...bukowskianamente afirmo que grande parte da minha vida passei achando que não sabia nem quem eu era. Anne Damásio

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O que aprendi em 2013, e sobretudo o que eu quero esquecer...

Oficialmente órfã de psicóloga. Minha terapeuta na nossa última sessão me pergunta, fazendo afirmações sempre distantes de todos os clichês(coisa que eu adoro, esse jeito de elaborar sentenças motivadoras sem que as mesmas pareçam recém-saídas de um livro de auto-ajuda, além da velha pergunta que me acompanha desde maio: isso faz sentido para você?) após uma breve apresentação de mim a mim mesma, o que eu mudaria a partir de uma rememoração desse ano que passou. Bom, considerando que eu tenho horror a essa época do ano e definitivamente não consigo reelaborá-la, por mais que eu tente, entrei na onda de refletir sobre o ano que breve findará, e descobri: que odeio essa doença mas que terei de domá-la se pretendo continuar viva, que ela fará incursões regulares por um tempo considerável, dando as caras uma vez ou outra para me lembrar que eu existo para além dela, mas que ela existe comigo, e que tem sido uma mestra bem cruel, mas necessária(e nesse ponto tenho que confessar que ainda não sei qual a sua ‘serventia’).
Aprendi que as pessoas que amo foram essenciais para me ajudar a sair do fundo do poço - apesar de me manter pendurada por uma corda fraquinha ao meio caminho entre o escuro do fundo do poço e aquelas luzes ofuscantes e confusas da parte de cima. Minha companheira Dani Negro, com toda a paciência que lhe é característica, Minha filha Beatriz Vieira com essa leveza que tornam possíveis os meus dias, Minha mãe que passou horas ouvindo minhas insanidades intercaladas pelos choros convulsivos, e pelo otimismo que eu definitivamente não herdei, Tassi, minha irmã que eu amo e que me ajudava a levantar. Aprendi que certos prazeres efêmeros trazem sempre uma carta extensa de cobranças depois.
Aprendi que transtornos mentais são feios e escuros, e que as pessoas tendem a evita-los, dessa feita além das pessoas que elenco acima me sobrou uma única amiga, que se preocupou verdadeiramente comigo, as pessoas a quem ajudei de verdade em momentos diversos simplesmente esqueceram da minha existência, as visitas que antes eram ponto pacífico em minha vida, foram escasseando, as desculpas eram ótimos, você deve estar tão mal, então resolvi não aparecer, o interessante é que a constatação era elaborada num vazio, Teve também sujeitos mais diretos em sua deslealdade, sujeitos que não deram nenhuma desculpa, e também não apareceram, sujeitos que tiveram a doença e que eu ajudei a cuidar(no sentido literal). Decorrente disso entendemos que só devemos ter a nosso lado quem se faz presente, e essa presença nunca deve ser mediada por oportunismos de quaisquer natureza, a presença tem que ser por gosto e vontade, você me entende?
Aprendi que o meu corpo não me pertence, porque os remédios que curam a cabeça deixam-no inapto para viver no sentido estético. Aprendi que o tour pelos médicos quando iniciado reproduz aqueles efeito dominó, e toda a sorte de desmantelos orgânicos irão surgir.
Aprendi que existem médicos de verdade, com uma capacidade única de me compreender para além dos transtornos, uma fusão pouco comum entre competência técnica e humanização no melhore sentido do termo, fato visível na sua postura impecável.
Resolvi também uma série de questões fúteis, que vou aprender a me maquiar porque não pagarei mais uma exorbitância para um troço que escorrerá pelo ralo no final da noite, e essa foi a maior promessa em termos fúteis que faço desde a adolescência.

Aprendi que eu não sei dançar, mas também não quero aprender. Que não sei sorrir sem vontade, e que sorriso sem vontade deveria ser punido com obesidade no rosto, queria ver se ainda existiria tanta gente falsa no mundo. Aprendi que ser dona de um gato não basta, por isso temos duas novas integrantes nesse clã tão do bem.  Aprendi que ainda vou aprender um bocado de coisas desde que eu me permita, desde que o ano mude, desde que a vida leve de arrasto tudo que nos leva para trás. Aprendi que continuarei sendo assim sem jeito até enquanto aguentar pensar, até o dia que eu aprenda a sonhar, até o dia que o outro não se constitua em obstáculo mas em mão que ampara para caminhar junto. Anne Damásio

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Cabeças, verdades e o que me envolve...

Eu começava a entender depois de trinta e oito anos, como boa cabeça dura que sou, que o destino não me daria nada do que pedi, que karmas, crenças, rosários e cantorias nunca seriam suficientes para sarar isso que arde em meu peito e arranca pedaços, como talhos feitos em madeira dessas bem duras...Toda essa certeza angustiante se deu hoje, nessa tarde de constatações, nessa brincadeira chata de saber que estava certa. A velha lógica paradoxal ria de mim, mostrando que eu adorava estar certa, mas me doía saber-me assim, certa, porque essa coisa de estar certa se voltava contra mim...e tantas certezas depois, descubro minha imagem no espelho do supermercado, me olho e percebo que não estou cabendo nem no sentido estético, as roupas estão apertadas onde não devem, revelando o que tem de ser escondido na falta de dinheiro para ser extirpado. As saias que sempre gostei parecem capas para artefatos de cozinha, não me reconheço e me angustio, mais uma pequena futilidade a me tirar lascas na ordem dos dias. Depois o encontro com um amigo, os cumprimentos que economizam a ida ao ponto, e o meu relato repetitivo, que nem eu mais  suporto, como se fosse mentira, como se eu não quisesse ou pudesse mais me ouvir. Relato cortado pela pressa de viver longe dos que quase deram certo, mais se perderam no caminho, esmagados pela procura, pela ausência de coerência entre discurso e prática, pela incapacidade de pisar na cabeça dos demais em nome da sua própria cabeça torta. Relato que cortado, me mostra quem eu não quero ser, porque tenho exercitado, por mais excruciante que seja a escuta do outro...Então descubro que essa praga ainda paira sobre mim, grito, vejo, me odeio, surto, e descubro que talvez essa incapacidade de caber no plano físico, seja um reflexo do fato de que não sei suportar essa horda de humanos dobrados por sobre o próprio umbigo e ignorando a existência do outro com uma maestria que lhes escapa nos outros terrenos do existir. Anne Damásio


Fotoart: Jaya Suberg



As embalagens de margarina e o poder das instituições...

Era uma vez uma pessoa que acreditava em tudo que lhe prometiam, que tinha um pendor para se adequar as imposições das instituições sociais, e tudo de podre que se esconde por trás das mesmas, as obrigações, os oportunismos, as sacanagens...no lugar do óbvio ululante pintado por trás de cada ato maquinado, ela via um lindo comercial de margarina. Eu morria a cada vez que subestimavam a sua inteligência, a cada vez que se aproveitavam da sua bondade, mas elas horrorizada com minha atitude excessivamente revoltada, tentava me acalmar e justificava em nome do que não tem justificativa. Então lavei as mãos, e nossa, como escorreu sujeira pelo ralo...precisava deixar as pessoas quebrarem a cara sozinhas, ou nunca enxergarem o que se inscreve despudoradamente na sua frente, mas quando não se quer ver não adianta explicar, brigar, enlouquecer(até porque o último item já estava autenticado e comprometido com os remédios receitados pelo moço que cuidava da minha cabeça)...Quanto a moça? Continua feliz, acreditando que o mundo é mesmo cor de rosa, apesar de odiar essa cor. Parabéns moça, você passou com louvor no curso de acomodações alienantes ao instituído. O mais assustador é que depois que as pessoas faziam tudo o que queriam com ela, levantavam-se no dia seguinte, sorriam lembrando que ela caira mais uma vez, e levavam em frente o seu conto de fadas feito para poucos, apenas os escolhidos. Então citando Sophia de Mello B.Andresen: Perdoai-lhes Senhor. Porque eles sabem o que fazem. Anne Damásio


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Qual a doença que te habita?


Ah, então quer dizer que devo re-la-xar, realizar mais uma centena de exames complementares que servirão para complementar os que complementaram os  exames iniciais? Então a suspeita é de auto-imune? Acho digno, afinal acredito plenamente que a doença deve parecer com seu portador, vide tantos românticos com tuberculose lá pelos idos do século XIX, se não me falha a memória(e se isso já não for um reflexo do corpo contra mim, para provar de forma machista que o meu corpo não me pertence, não por enquanto, não mais)...E a relação entre mundos imaginários, loucura e literatura, como não pensar no caráter transgressor da loucura, como não imaginar que haveria uma relação entre: um sistema nervoso obscenamente afinado, que perceberia mais informações sensoriais do quê a média dos humanos normais, e faria com quê tantos escritores lindos e loucos se doessem por dentro, deixando escapar na escrita o que se escondia nos lugares indevassáveis de suas almas atormentadas. Numa lógica bemmm Anne Sexton, de que: "A literatura me pegou pela mão e me salvou da loucura." Mas então as auto imunes, que caracterizam-se pela presença de diversos auto-anticorpos - anticorpos contra as estruturas celulares do próprio cristão, e começo a crer que não tão cristão assim, considerando que o seu corpo atenta contra si, com uma veia marcadamente assassino/suicida, risivelmente desagradável, mas muito parecida com gente que tem um pendor para atitudes impensadas, ou maquinadas a tempo demais. A parte interessante que sobra desse grande circo é o cultivo excessivo do corpo enquanto marca da identidade, e a incrível efemeridade que o caracteriza diante de um humano  que ninguém se preocupa em desenvolver...a alma hoje seria a irmã pobre do corpo esteticamente modelado. Então daremos viva ao perecível, porque o que importa...importa para quem mesmo? Anne Damásio

Fotoarte: Jaya Suberg

domingo, 1 de dezembro de 2013

E em tempos de tecnologia...dessa benção que é deletar com um leve apertar de uma tecla quando percebemos que o cristão começou a conversar monossilábico, com uma má vontade que quase dá para sentir o cheiro aqui. Quando podemos estar caindo aos pedaços nas bandas de cá, e postando fotos lindas daqueles momentos de mega-produção-essa-não-sou-eu, para aquelas festas que fomos, e que tudo que queríamos - em caso de impossibilidade para encher a cara - era voltar para postar as fotos da festa que ainda estava rolando, numa lógica meio 'o cúmulo do paradoxo'. Tem também as centenas de mensagens que posso postar de caráter motivacional(incorporando em 3,2,1 a generosa) para ajudar aqueles que amo, e os que amo por obrigação decorrente do amor aos primeiros...mas que fique bem claro, essas mensagens devem ser lidas ao contrário se você for uma dessas criaturas do mal, pouco religiosa(ou nada religiosas, acredita que existe gente assim)...Ah, e se sua religião for essas sem Deus ou com vários deuses, ou dessas que tem macumba, ou dessas que gosta de imagens, a mensagem também não é para você. Também não quero que pessoas que se dão ao desfrute, tais como: homossexuais(tem uns gays lá onde eu moro que vive reclamando, dizendo que o correto é homossexualidade, enchem a boca para falar dessa doença, parece até que tem orgulho, eu hein!). Na verdade eu só quero ao meu lado quem pensa como eu, num gosto dessas histórias que a professora, aquela tatuada....ah, também não mando mensagem motivacional para tatuados, quero mais é que eles queimem no fogo do inferno junto com os outros que citei, gente estranha, então, falava da necessidade de aceitar as diferenças, uma história de relativizar, a boca dela era esse tal de relativizar....tá bom, ela vá relativizar lá com as nêgas dela, sim, porque o desmantelo num era só as tatuagens não...Mas voltando para o início só queria dizer que tô com medo que a internet não seja de Deus. Maria Justina(PS: gosto de pensar que é Justina que vem de justa, porque eu odeio injustiça)

Anne Damásio