sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O que aprendi em 2013, e sobretudo o que eu quero esquecer...

Oficialmente órfã de psicóloga. Minha terapeuta na nossa última sessão me pergunta, fazendo afirmações sempre distantes de todos os clichês(coisa que eu adoro, esse jeito de elaborar sentenças motivadoras sem que as mesmas pareçam recém-saídas de um livro de auto-ajuda, além da velha pergunta que me acompanha desde maio: isso faz sentido para você?) após uma breve apresentação de mim a mim mesma, o que eu mudaria a partir de uma rememoração desse ano que passou. Bom, considerando que eu tenho horror a essa época do ano e definitivamente não consigo reelaborá-la, por mais que eu tente, entrei na onda de refletir sobre o ano que breve findará, e descobri: que odeio essa doença mas que terei de domá-la se pretendo continuar viva, que ela fará incursões regulares por um tempo considerável, dando as caras uma vez ou outra para me lembrar que eu existo para além dela, mas que ela existe comigo, e que tem sido uma mestra bem cruel, mas necessária(e nesse ponto tenho que confessar que ainda não sei qual a sua ‘serventia’).
Aprendi que as pessoas que amo foram essenciais para me ajudar a sair do fundo do poço - apesar de me manter pendurada por uma corda fraquinha ao meio caminho entre o escuro do fundo do poço e aquelas luzes ofuscantes e confusas da parte de cima. Minha companheira Dani Negro, com toda a paciência que lhe é característica, Minha filha Beatriz Vieira com essa leveza que tornam possíveis os meus dias, Minha mãe que passou horas ouvindo minhas insanidades intercaladas pelos choros convulsivos, e pelo otimismo que eu definitivamente não herdei, Tassi, minha irmã que eu amo e que me ajudava a levantar. Aprendi que certos prazeres efêmeros trazem sempre uma carta extensa de cobranças depois.
Aprendi que transtornos mentais são feios e escuros, e que as pessoas tendem a evita-los, dessa feita além das pessoas que elenco acima me sobrou uma única amiga, que se preocupou verdadeiramente comigo, as pessoas a quem ajudei de verdade em momentos diversos simplesmente esqueceram da minha existência, as visitas que antes eram ponto pacífico em minha vida, foram escasseando, as desculpas eram ótimos, você deve estar tão mal, então resolvi não aparecer, o interessante é que a constatação era elaborada num vazio, Teve também sujeitos mais diretos em sua deslealdade, sujeitos que não deram nenhuma desculpa, e também não apareceram, sujeitos que tiveram a doença e que eu ajudei a cuidar(no sentido literal). Decorrente disso entendemos que só devemos ter a nosso lado quem se faz presente, e essa presença nunca deve ser mediada por oportunismos de quaisquer natureza, a presença tem que ser por gosto e vontade, você me entende?
Aprendi que o meu corpo não me pertence, porque os remédios que curam a cabeça deixam-no inapto para viver no sentido estético. Aprendi que o tour pelos médicos quando iniciado reproduz aqueles efeito dominó, e toda a sorte de desmantelos orgânicos irão surgir.
Aprendi que existem médicos de verdade, com uma capacidade única de me compreender para além dos transtornos, uma fusão pouco comum entre competência técnica e humanização no melhore sentido do termo, fato visível na sua postura impecável.
Resolvi também uma série de questões fúteis, que vou aprender a me maquiar porque não pagarei mais uma exorbitância para um troço que escorrerá pelo ralo no final da noite, e essa foi a maior promessa em termos fúteis que faço desde a adolescência.

Aprendi que eu não sei dançar, mas também não quero aprender. Que não sei sorrir sem vontade, e que sorriso sem vontade deveria ser punido com obesidade no rosto, queria ver se ainda existiria tanta gente falsa no mundo. Aprendi que ser dona de um gato não basta, por isso temos duas novas integrantes nesse clã tão do bem.  Aprendi que ainda vou aprender um bocado de coisas desde que eu me permita, desde que o ano mude, desde que a vida leve de arrasto tudo que nos leva para trás. Aprendi que continuarei sendo assim sem jeito até enquanto aguentar pensar, até o dia que eu aprenda a sonhar, até o dia que o outro não se constitua em obstáculo mas em mão que ampara para caminhar junto. Anne Damásio

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