Ando mesmo
muito antissociável, a única coisa que me motiva ultimamente são uns poucos livros
adquiridos, e o computador que me joga no mundo dos meus-outros sem sair da
minha cama(com quem mantenho uma relação de intimidade visceral). Quero
atribuir essa incapacidade ao período natalino, a um suposto inferno astral(que
antecipei apenas para justificar a dor), as dificuldades de ordem prática.
Outras horas quero crer que deve ser sina, destino, carma ou qualquer coisa que
explique essa minha dificuldade de caber, de me inserir, de fazer parte. Uma
vez alguém me disse que o meu problema era criar expectativas demais em relação
as pessoas, na época concordei, mas hoje eu sei que o problema são as expectativas
que lanço sobre mim, elas são medidas no limite do que considero ideal, inalcançáveis
de fato, dessa feita nem alcanço nem caibo, ficando a meio caminho entre quem
sou de fato, que talvez conseguisse viver, e quem quero ser para atingir as
tais expectativas inatingíveis. Não consigo saber o saldo desse ano, que foi de
uma crueldade incompreensível, sei que ele virá, nem que seja através das
lições tiradas em máximas de auto ajuda que postarei, ou arrotarei como pérolas
aos porcos. A única certeza que eu tenho nem sequer é minha...bukowskianamente
afirmo que grande parte da minha vida passei achando que não sabia nem quem eu
era. Anne Damásio
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
O que aprendi em 2013, e sobretudo o que eu quero esquecer...
Oficialmente
órfã de psicóloga. Minha terapeuta na nossa última sessão me pergunta, fazendo
afirmações sempre distantes de todos os clichês(coisa que eu adoro, esse jeito
de elaborar sentenças motivadoras sem que as mesmas pareçam recém-saídas de um
livro de auto-ajuda, além da velha pergunta que me acompanha desde maio: isso
faz sentido para você?) após uma breve apresentação de mim a mim mesma, o que
eu mudaria a partir de uma rememoração desse ano que passou. Bom, considerando
que eu tenho horror a essa época do ano e definitivamente não consigo reelaborá-la,
por mais que eu tente, entrei na onda de refletir sobre o ano que breve
findará, e descobri: que odeio essa doença mas que terei de domá-la se pretendo
continuar viva, que ela fará incursões regulares por um tempo considerável,
dando as caras uma vez ou outra para me lembrar que eu existo para além dela,
mas que ela existe comigo, e que tem sido uma mestra bem cruel, mas
necessária(e nesse ponto tenho que confessar que ainda não sei qual a sua ‘serventia’).
Aprendi que
as pessoas que amo foram essenciais para me ajudar a sair do fundo do poço -
apesar de me manter pendurada por uma corda fraquinha ao meio caminho entre o
escuro do fundo do poço e aquelas luzes ofuscantes e confusas da parte de cima.
Minha companheira Dani Negro, com toda a paciência que lhe é característica, Minha
filha Beatriz Vieira com essa leveza que tornam possíveis os meus dias, Minha
mãe que passou horas ouvindo minhas insanidades intercaladas pelos choros
convulsivos, e pelo otimismo que eu definitivamente não herdei, Tassi, minha
irmã que eu amo e que me ajudava a levantar. Aprendi que certos prazeres
efêmeros trazem sempre uma carta extensa de cobranças depois.
Aprendi que
transtornos mentais são feios e escuros, e que as pessoas tendem a evita-los,
dessa feita além das pessoas que elenco acima me sobrou uma única amiga, que se
preocupou verdadeiramente comigo, as pessoas a quem ajudei de verdade em
momentos diversos simplesmente esqueceram da minha existência, as visitas que
antes eram ponto pacífico em minha vida, foram escasseando, as desculpas eram
ótimos, você deve estar tão mal, então resolvi não aparecer, o interessante é
que a constatação era elaborada num vazio, Teve também sujeitos mais diretos em
sua deslealdade, sujeitos que não deram nenhuma desculpa, e também não apareceram,
sujeitos que tiveram a doença e que eu ajudei a cuidar(no sentido literal).
Decorrente disso entendemos que só devemos ter a nosso lado quem se faz
presente, e essa presença nunca deve ser mediada por oportunismos de quaisquer
natureza, a presença tem que ser por gosto e vontade, você me entende?
Aprendi que
o meu corpo não me pertence, porque os remédios que curam a cabeça deixam-no inapto
para viver no sentido estético. Aprendi que o tour pelos médicos quando
iniciado reproduz aqueles efeito dominó, e toda a sorte de desmantelos
orgânicos irão surgir.
Aprendi que
existem médicos de verdade, com uma capacidade única de me compreender para
além dos transtornos, uma fusão pouco comum entre competência técnica e
humanização no melhore sentido do termo, fato visível na sua postura impecável.
Resolvi também
uma série de questões fúteis, que vou aprender a me maquiar porque não pagarei
mais uma exorbitância para um troço que escorrerá pelo ralo no final da noite,
e essa foi a maior promessa em termos fúteis que faço desde a adolescência.
Aprendi que
eu não sei dançar, mas também não quero aprender. Que não sei sorrir sem
vontade, e que sorriso sem vontade deveria ser punido com obesidade no rosto,
queria ver se ainda existiria tanta gente falsa no mundo. Aprendi que ser dona
de um gato não basta, por isso temos duas novas integrantes nesse clã tão do
bem. Aprendi que ainda vou aprender um
bocado de coisas desde que eu me permita, desde que o ano mude, desde que a
vida leve de arrasto tudo que nos leva para trás. Aprendi que continuarei sendo
assim sem jeito até enquanto aguentar pensar, até o dia que eu aprenda a
sonhar, até o dia que o outro não se constitua em obstáculo mas em mão que
ampara para caminhar junto. Anne Damásio
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Cabeças, verdades e o que me envolve...
Eu
começava a entender depois de trinta e oito anos, como boa cabeça dura que sou,
que o destino não me daria nada do que pedi, que karmas, crenças, rosários e
cantorias nunca seriam suficientes para sarar isso que arde em meu peito e
arranca pedaços, como talhos feitos em madeira dessas bem duras...Toda essa
certeza angustiante se deu hoje, nessa tarde de constatações, nessa brincadeira
chata de saber que estava certa. A velha lógica paradoxal ria de mim, mostrando
que eu adorava estar certa, mas me doía saber-me assim, certa, porque essa
coisa de estar certa se voltava contra mim...e tantas certezas depois, descubro
minha imagem no espelho do supermercado, me olho e percebo que não estou
cabendo nem no sentido estético, as roupas estão apertadas onde não devem,
revelando o que tem de ser escondido na falta de dinheiro para ser extirpado. As
saias que sempre gostei parecem capas para artefatos de cozinha, não me
reconheço e me angustio, mais uma pequena futilidade a me tirar lascas na ordem
dos dias. Depois o encontro com um amigo, os cumprimentos que economizam a ida
ao ponto, e o meu relato repetitivo, que nem eu mais suporto, como se fosse mentira, como se eu
não quisesse ou pudesse mais me ouvir. Relato cortado pela pressa de viver
longe dos que quase deram certo, mais se perderam no caminho, esmagados pela
procura, pela ausência de coerência entre discurso e prática, pela incapacidade de pisar na
cabeça dos demais em nome da sua própria cabeça torta. Relato que cortado, me
mostra quem eu não quero ser, porque tenho exercitado, por mais excruciante que
seja a escuta do outro...Então descubro que essa praga ainda paira sobre mim, grito,
vejo, me odeio, surto, e descubro que talvez essa incapacidade de caber no
plano físico, seja um reflexo do fato de que não sei suportar essa horda de
humanos dobrados por sobre o próprio umbigo e ignorando a existência do outro
com uma maestria que lhes escapa nos outros terrenos do existir. Anne Damásio
Fotoart: Jaya Suberg
As embalagens de margarina e o poder das instituições...
Era uma
vez uma pessoa que acreditava em tudo que lhe prometiam, que tinha um pendor
para se adequar as imposições das instituições sociais, e tudo de podre que se
esconde por trás das mesmas, as obrigações, os oportunismos, as sacanagens...no
lugar do óbvio ululante pintado por trás de cada ato maquinado, ela via um
lindo comercial de margarina. Eu morria a cada vez que subestimavam a sua
inteligência, a cada vez que se aproveitavam da sua bondade, mas elas
horrorizada com minha atitude excessivamente revoltada, tentava me acalmar e
justificava em nome do que não tem justificativa. Então lavei as mãos, e nossa,
como escorreu sujeira pelo ralo...precisava deixar as pessoas quebrarem a cara
sozinhas, ou nunca enxergarem o que se inscreve despudoradamente na sua frente,
mas quando não se quer ver não adianta explicar, brigar, enlouquecer(até porque
o último item já estava autenticado e comprometido com os remédios receitados
pelo moço que cuidava da minha cabeça)...Quanto a moça? Continua feliz, acreditando que o mundo é mesmo cor de
rosa, apesar de odiar essa cor. Parabéns moça, você passou com louvor no curso
de acomodações alienantes ao instituído. O mais assustador é que depois que as
pessoas faziam tudo o que queriam com ela, levantavam-se no dia seguinte,
sorriam lembrando que ela caira mais uma vez, e levavam em frente o seu conto
de fadas feito para poucos, apenas os escolhidos. Então citando Sophia de Mello B.Andresen: Perdoai-lhes Senhor. Porque eles sabem o que fazem. Anne Damásio
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Qual a doença que te habita?
Ah, então
quer dizer que devo re-la-xar, realizar mais uma centena de exames
complementares que servirão para complementar os que complementaram os exames iniciais? Então a suspeita é de
auto-imune? Acho digno, afinal acredito plenamente que a doença deve parecer
com seu portador, vide tantos românticos com tuberculose lá pelos idos do
século XIX, se não me falha a memória(e se isso já não for um reflexo do corpo
contra mim, para provar de forma machista que o meu corpo não me pertence, não
por enquanto, não mais)...E a relação entre mundos imaginários, loucura e
literatura, como não pensar no caráter transgressor da loucura, como não
imaginar que haveria uma relação entre: um sistema nervoso obscenamente afinado,
que perceberia mais informações sensoriais do quê a média dos humanos
normais, e faria com quê tantos escritores lindos e loucos se doessem por
dentro, deixando escapar na escrita o que se escondia nos lugares indevassáveis
de suas almas atormentadas. Numa lógica bemmm Anne Sexton, de que: "A
literatura me pegou pela mão e me salvou da loucura." Mas então as
auto imunes, que caracterizam-se pela
presença de diversos auto-anticorpos - anticorpos contra as estruturas
celulares do próprio cristão, e começo a crer que não tão cristão assim,
considerando que o seu corpo atenta contra si, com uma veia marcadamente
assassino/suicida, risivelmente desagradável, mas muito parecida com gente que
tem um pendor para atitudes impensadas, ou maquinadas a tempo demais. A parte
interessante que sobra desse grande circo é o cultivo excessivo do corpo enquanto
marca da identidade, e a incrível efemeridade que o caracteriza diante de um
humano que ninguém se preocupa em
desenvolver...a alma hoje seria a irmã pobre do corpo esteticamente modelado.
Então daremos viva ao perecível, porque o que importa...importa para quem mesmo? Anne Damásio
Fotoarte: Jaya Suberg
domingo, 1 de dezembro de 2013
E em tempos de
tecnologia...dessa benção que é deletar com um leve apertar de uma tecla quando
percebemos que o cristão começou a conversar monossilábico, com uma má vontade
que quase dá para sentir o cheiro aqui. Quando podemos estar caindo
aos pedaços nas bandas de cá, e postando fotos lindas daqueles momentos de
mega-produção-essa-não-sou-eu, para aquelas festas que fomos, e que tudo que
queríamos - em caso de impossibilidade para encher a cara - era voltar para
postar as fotos da festa que ainda estava rolando, numa lógica meio 'o cúmulo
do paradoxo'. Tem também as centenas de mensagens que posso postar de caráter
motivacional(incorporando em 3,2,1 a generosa) para ajudar aqueles que amo, e
os que amo por obrigação decorrente do amor aos primeiros...mas que fique bem
claro, essas mensagens devem ser lidas ao contrário se você for uma dessas
criaturas do mal, pouco religiosa(ou nada religiosas, acredita que existe gente
assim)...Ah, e se sua religião for essas sem Deus ou com vários deuses, ou
dessas que tem macumba, ou dessas que gosta de imagens, a mensagem também não é
para você. Também não quero que pessoas que se dão ao desfrute, tais como:
homossexuais(tem uns gays lá onde eu moro que vive reclamando, dizendo que o
correto é homossexualidade, enchem a boca para falar dessa doença, parece até
que tem orgulho, eu hein!). Na verdade eu só quero ao meu lado quem pensa como
eu, num gosto dessas histórias que a professora, aquela tatuada....ah, também
não mando mensagem motivacional para tatuados, quero mais é que eles queimem no
fogo do inferno junto com os outros que citei, gente estranha, então, falava da
necessidade de aceitar as diferenças, uma história de relativizar, a boca dela
era esse tal de relativizar....tá bom, ela vá relativizar lá com as nêgas dela,
sim, porque o desmantelo num era só as tatuagens não...Mas voltando para o
início só queria dizer que tô com medo que a internet não seja de Deus. Maria Justina(PS: gosto de pensar que é Justina que vem de justa, porque eu odeio injustiça)
Anne Damásio
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