Colei
meu melhor sorriso na cara com superbond(aquelas de antigamente que não deixam
espaço nem para infiltrações minúsculas, e passei a noite inteira
assim...porque entendi que os humanos ‘normais’(nesse caso gostaria de colocar
aspas duplas, no melhor estilo double face) não suportam o sofrimento do outro,
então não valia a pena compartilhar dor, sofrimento, desespero, essas palavras
todas que compõem o dicionário dos pessimistas, porque esses sujeitos normais
cansam facilmente dessas tragédias comezinhas que também compõem a vida
(in)vivível dos que resvalam para as margens. Naquela mesa aquela senhora
espirituosa e irônica na medida permitida, ou até o próximo copo que a levará a
beira do abismo, conversava sobre amenidades...espera, onde estão todos? Até
agora eu falei de mim para mim? Ah meus sais, os outros fugiram, só os felizes
e bem sucedidos podem fazer parte do bando...eu, eu continuo aqui, cavando com
o pé esse círculo em volta da mesa cheia de vazios! Anne Damásio
quinta-feira, 27 de junho de 2013
A sombra daqueles dias...
Hoje ela acordou daquele jeito, uma certa tristeza cortante e
relativamente persistente dava o ar da graça e dançava pelo terreiro, no lugar
daquela leveza que descia cândida sobre os seus dias. Uma tal inquietude amena,
apesar de enquanto narradora da saga da outra, não concordar com as duas palavras(amena+inquietude)
habitando a mesma frase. Resolvi observar mais um pouco para só então traçar o
veredito, até o momento não acreditava em promessas de tempestades para algum
futuro próximo, mas sabia que ninguém se cura de doidice, sentar e esperar
porque toda insanidade temporária volta! E tive que rir, não que eu desejasse o
mal da outra, mas não conseguia imaginá-la sã...E parece até que quem estava
começando a variar era eu? Anne Damásio
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Em meu encalço...
As
vezes a moça tinha a sensação que tinha de correr no encalço de si,
estranhamente descobria que não estava indo para nenhum lugar em particular, e
era como um duplo atordoar-se...porque saber que tem que caminhar pressupõe a definição
do lugar para chegar, então sarcástica porque nervosa olhava na cara da vida e
pedia gentilmente licença para continuar, a única exigência que ela ou a que
ela andava no encalço fazia era licença para existir só pra si, sem a
preocupação castradora do olhar do outro, licença para raspar a cabeça,
esquecer as convenções e ser ela. Mas quem ela era? Anne Damásio
Um certo azul clarinho...
É
como um reencontro com um ser que eu não conhecia, a vida adquiria nuances mais
leves, nunca aquele prisma confuso de cores ofuscantes; nem o cinza dos dias
iniciais onde a cama estava escorada no abismo, e era lá que eu queria ficar;
nem aquele bege pastoso dos momentos em que aquela apatia pegajosa era
regra...agora um certo azul clarinho, que bem poderia ser rosa, mas minha veia
subversiva não permitia adesões incondicionais a extremos, talvez por isso não
me reconhecia nessa leveza que me deixava entre tonta e enjoada. Continuarei
perseguindo essa que não reconheço, talvez porque ela nunca esteve aqui, porque
eu nunca tinha enxergado, no sentido de devassar, esse ser intenso e estranho,
e já tinha saudades dela, e não queria que ela fosse embora...E não sabia o que
sobraria dela em mim...eu que ultimamente abusava das reticências como forma de
dar uma continuidade qualquer para uma existência ainda estagnada,
estagnando-se...e quando me perguntarem onde estou? Afirmarei que recompondo um
eu que não era eu! Anne Damásio
terça-feira, 25 de junho de 2013
E se eu me curar de mim, quem serei eu?
Se
me perguntam como estou, e alguns acreditem o fazem com um real interesse,
aprendi a dizer que estou bem, claroooo, estou ficando, com auxílios os mais
diversos, desde os medicamentosos, até aqueles preciosíssimos ouvidos prontos e
dispostos a curar, o que minha boca expulsa verborrágica...
Vou
vivendo, respirando, me exercitando em compaixão por mim e pelos outros, nesses
tempos sombrios em que visualizamos a mudança e vemos a falta de foco, pelo excesso
de problemas, nos empurrar ao entorno de nós, assim humanamente
atabalhoados...Nesses momentos de saída para ver o compartilhamento do
sofrimento lá fora, quase uma espécie de ‘delírio coletivo’ freudianamente investido,
na lógica de que “todos que participam de uma delírio, jamais o reconhecem enquanto
tal”, esqueço de mim, e custa-me lembrar, as vezes tenho a clara sensação de
que foi assim que vivi até agora, na superfície das coisas, justo eu que me
achava tão profundaaaa...
Percebi
que meu estar bem geralmente era incapaz de prescindir de algum ‘remédio que me
desse alegria’, isto posto, eu nunca estivera bem de fato...talvez nesses dias
posteriores a grande falta, a nebulosa, a lama toda em que eu
estava/estou/estarei? Enfiada comecem a me revelar quem eu sou, a pergunta é:
Eu quero me saber? Eu quero me encontrar?E se eu me curar de mim, quem serei
eu? Anne Damásio
terça-feira, 18 de junho de 2013
Os tempos da depressão...
Eu não consigo dialogar com o caos, porque ele me faz calar... e as
teclas transformam-se em guindastes, nada flui, assim como eu não tenho
fluido....utilizo as reticências para fornecer essa suposta fluidez que estando
ausente se transforma em falta, e enquanto falta se faz absurdamente
necessária...dilato a apatia na medida em que vejo a dor migrar de um espaço a
outro, não tendo eu controle algum...de novo as reticências, e as constatações
repisadas nas sessões de terapia em que me busco. Só me resta olhar de cima
para mim, para esse quase-eu que se gesta lentamente...Anne Damásio
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Do que há em mim que não sou eu...
Os gestos cotidianos de levar as mãos aos cabelos numa
tentativa quase boba de acalmar esses pensamentos confusos, a dificuldade de
conviver com a instabilidade, seja no comportamento, nos pensamentos que se
sucedem sem ordem alguma, seja no mais óbvio que deveria ser viver sem perscrutar
o universo em busca de um sentido que sempre me escapará...Tudo isso, me revela
a delicadeza que reveste os sentimentos que me cercam, da melancolia falava
outro dia, essa é pródiga em pregar peças e sujar meus dias, da tristeza
compreendo sua aderência, essa mania quase sórdida de grudar na pele e na alma,
da raiva tenho entendido sua agudeza, tudo sempre irrompe sem possibilidades de
contenção! Só não entendo como tudo isso faz corpo em mim, arruma espaços que
desconheço para morar no meu ser, se desloca com a perspicácia de um esgrimista
e nessas de brincar de se esconder, arma emboscada para mim que desse jeito
cheio e caótico nunca saberei caber...Anne Damásio
quarta-feira, 5 de junho de 2013
Da inviabilidade de viver dentro de mim...
Você
sabe o inferno que é viver dentro de mim? Perguntei a ele, e obtive um leve
meneio de cabeça, consentindo que era duro viver, eu gostava de como ele
compreendia a dor do outro, numa espécie de compreensão atenta de tudo, sem
julgamentos prévios ou tentativas de responder, dessas que via de regra
invalidam o que virá...o choro veio incapaz de ser contido, nem as medicações
teriam o poder de conter aquela forma de chorar por mim, lavando a dor, essa
última quase mestra em permanecer, ou mudar de lugar para não ceder...não
saberia dizer o que viria depois, sei que quero ficar bem, não sei como
fazê-lo, mas tenho tentado permanecer, por mim, por você e pelo que virá...numa
lógica meio Caio F. poderia afirmar que tenho uma curiosidade imensa pelo que
virá, mas talvez afirmando isso estaria mentindo para ti, para mim...escrevo
pra me livrar desse ranço que atravanca meus dias, escrevo para compreender o
que permanece em mim e não é mais meu, escrevo para fazer a dor escorrer pelas
teclas...como se essa fosse uma forma de fazer escoar o sofrimento e tornar a
existência viável...escrevo! Anne Damásio
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