sábado, 20 de setembro de 2014

É sempre assim quando me descubro só. Me vejo numa mesa cheia de ‘amigos’, ou naquelas festas fastidiosas de comemoração de alguma data insignificante para a maioria das pessoas, em termos do sentido que carrega, inscritas nos calendários pessoais como momento para abrandar as animosidades de toda uma vida. As pessoas riem, longe de saber de fato o que seria confraternizar. As pessoas riem, vazias de sentir e só mostrar.
Parte de um mundo onde as instituições são mais importantes que os laços, provavelmente me sentirei sem lugar, e observarei os outros fingirem ocupar um lugar que não é deles – ao longo do ano falarão, apontarão falhas, arranjarão formas de culpar alguém, mas relaxe, sempre tem uma data comemorativa no calendário, resta saber se já inventaram o dia da hipocrisia.
Você volta para sua concha, afasta a todos com seus ‘melindres’, mesmo os que te fazem sentir bem – quase ninguém consegue, e mesmo assim você os afasta. Eles confundem incapacidade de adaptação, inapetência para socializar com maldade, e como falam, porque não sabem o que é sentir-se em carne viva. As vezes que você tentou ser um deles, foi engraçado e patético, você deixou todos os braços e pernas a mostra, não sabia o que fazer com as mãos, falava demais – pensava demais, observava demais, e via o que não podia, e se desculpava por eles, seguidas vezes. Dessas noites que a boa educação nos impõe, sobra a necessidade de beber para suportar – de preferência beber muito, até não sobrar consciência.

Você finge não se importar, mas artes cênicas não é seu forte, o álcool trará a tona seu eu real, que será retirado da sala com desculpas relativas ao horário. Dentro de você será sempre cedo demais, cedo demais para descer ao mundo.

Anne Damásio


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