terça-feira, 19 de novembro de 2013

"Quem inventou o amor? Me diga por favor."




Completamente inspirada pela sucessão de cenas românticas da novela das seis, caí naquele velho estado de deambulação mental, alguns humanos são bem curiosos(e afirmo isso consciente de que nos atracamos a essa ideia de amor romântico em função de um processo de socialização cruel, que desliza entre a disney, as novelas da globo – algumas ótximas – e romances de quinta, alternados com o desfavor ainda mais grave de livros de auto-ajuda com títulos mais antigos como: ‘mulheres são de marte...’ até ‘amor e sedução para a mulher do século XXI’), então, retomando meu delírio deambulatório, esses humanos são propensos a se agarrar aqueles começos, e tentar permanecer lá para sempre e arrastando o outro. Eles(e me refiro a mulheres e homens, por que ao contrário das reiteradas tentativas de relacionar romantismo e gênero a mulher, sabemos que o fracasso emocional atinge a tod@s, e o amor fracassado transformará o ex em padrão de idealização e procura, para o que obviamente não se encontrará mais), os tais humanos, irão procurar permanecer numa história que o resto da sua vida será pontuada por explosões emocionais e flores, pelo fogo dos primeiros anos, pela permanência das alterações orgânicas quando pensa na existência do outr@, que vai desde o frio na barriga, a uma ‘quentura’ que começa no pescoço e se materializa numa vermelhidão incontrolável no rosto...Deixa eu explicar – inclusive para mim mesma que também passei pela mesma adequação socializadora – amor que permanece é todo trabalhado na lentidão, na constância, na ausência de ciúmes(aqui tenho que parar para uma ressalva, pode ser que eu não tenha mais a erupções vulcânicas de todos os inícios, mas ainda tenho crises pontuais de ciúmes, as vezes bem feias, estilo visões com venenos, facas e sangue nos olhos, e na capacidade de arrancar todos os cabelos da criatura de uma puxada só....)Onde eu estava mesmo? Sim, na constância, na vontade de cuidar, na vontade de sair correndo do trabalho para ver alguém que você já conhece a dez anos, que você adora desgrenhada ou arrumada, e lá vem outro parênteses, arrisco a dizer que os casais normais(e aqui, creia, não me refiro a heteros), esses casais preferem a criatura descabelada, leve, com aquele cheiro que é tão característico quando o perfume que é a cara da pele do outro já foi ficando longe e o que sobrou foi a pele...bom, no meu caso não é por romantismo, é porque a versão que o povo surta e fica louco para pegar pra si, e a versão trabalhada no perfume francês e com o cabelo impecável...amor de verdade é aguentar mau humor(e disso eu entendo), aguentar loucuras e cara amarrada(disso você entende)...E o mais importante, mesmo ciente do que há de melhor em nós, mesmo ciente de todos os defeitos, o amor escolhe permanecer aqui, porque cada vez que pensa em ir embora, tem um medo pânico de nunca mais te ver voltar. Anne Damásio


Ilustração: Audrey Kawasaki



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