Quando ela fica assim com o olhar perdido ela
quase sempre vê Elena. Mas não é de Elena e sua presença tão palpável a ponto
de apagar as vozes que a narram que eu quero falar...Eu quero falar de você Petra,
dessa abnegação suprema por Elena, quero falar de como tudo em você é a presença/ausência
de Elena. A sua pergunta ecoa na minha cabeça sempre prestes a estourar, não de
dor, mas dessa espécie de taquicardia psíquica que me acompanha pela vida a
fora. E como toda pergunta definitiva, nos deixa atônitos: Qual o meu papel? Qual o meu papel
nesse filme? E a essa eu acrescento, quem é você? Quem é você Petra?
Então, nessa confusão de vozes que narram, de
fios entalados no peito, você sente a presença de Elena, agora sua irmã não é
apenas aquela que se foi, deixando as marcas da necessidade de viver de/para a
arte em você. Ela não é só a que você tem que esquecer, ela é aquela que te faz
lembrar tudo que você não pode ser. Elena está em você, e você 'afoga-se nela’...e
oferece outra vida a ela, para mata-la em seguida...interpreta Elena para se
entender, como eu que escrevo sobre a morte para suportar viver.
Petra, a anti-Elena, a que nunca deveria ser
atriz, nunca deveria pisar em Nova York.
E Elena dentro dela, enroscada nas recordações, que Petra guardava no
canto esquerdo da sua cabeça, e que vez em quando se derrama pela cabeça
inteira, ameaçando devorar alguém que ela nem era ainda...para ser alguém ela
deveria encontrar Elena, refazer caminhos. Mas tenho medo, me ocorre que ela se
entregue meio que subversivamente a tudo que não deve ser, e vá embora com
Elena. Fica Petra, vai!
Anne Damásio
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