segunda-feira, 1 de julho de 2013

Talvez não enxergar seja uma boa forma de viver...

Aquela capacidade de ver demais nunca me apeteceu, até consegui viver em períodos brancos, ausente das coisas mesmo estando dentro delas...acredito que esse branco turvo era mais característico da minha adolescência, o eterno limbo do não estar e não ser, nem se saber...hoje estou enfiada nessa meia idade(trinta e muitos quase à beira do precipício dos quarenta...sim, porque para os homens essa idade legitima toda a série de experiências que os torna melhores, para nós, as rugas, os cremes para amenizá-las, os novos formatos que se amoldam ao corpo...e uma certa paz para consumo interno...Mas a maldita capacidade de ver demais, essa tende a adensar-se com a idade, e eu vejo, vejo os jogos sujos, as manipulações, as vilezas, as bobagens hiperbolizadas, o desdém nos gestos, a mentira deslavada, o interesse desperto, a vontade de não fazer nada, e o pingo de bondade que resta. Afirmar que gostaria de poder (des)ver seria mentir, mas preferia não compreender o que constitui o humano, preferia não perceber esse lado sujo que grita baixo para não chamar a atenção. Dessa feita, eu sigo assim a espreita de mim, vendo você nesse enredo chinfrim de quem finge viver se regozijando com a desventuras dos não seus! Anne Damásio

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