Aquela capacidade de ver demais nunca me apeteceu, até consegui
viver em períodos brancos, ausente das coisas mesmo estando dentro
delas...acredito que esse branco turvo era mais característico da minha
adolescência, o eterno limbo do não estar e não ser, nem se saber...hoje estou
enfiada nessa meia idade(trinta e muitos quase à beira do precipício dos
quarenta...sim, porque para os homens essa idade legitima toda a série de
experiências que os torna melhores, para nós, as rugas, os cremes para
amenizá-las, os novos formatos que se amoldam ao corpo...e uma certa paz para
consumo interno...Mas a maldita capacidade de ver demais, essa tende a
adensar-se com a idade, e eu vejo, vejo os jogos sujos, as manipulações, as
vilezas, as bobagens hiperbolizadas, o desdém nos gestos, a mentira deslavada,
o interesse desperto, a vontade de não fazer nada, e o pingo de bondade que
resta. Afirmar que gostaria de poder (des)ver seria mentir, mas preferia não
compreender o que constitui o humano, preferia não perceber esse lado sujo que
grita baixo para não chamar a atenção. Dessa feita, eu sigo assim a espreita de
mim, vendo você nesse enredo chinfrim de quem finge viver se regozijando com a
desventuras dos não seus! Anne Damásio
Penso isso também, amiga, só vc pra colocar de forma tão clara. beijos
ResponderExcluir