quinta-feira, 10 de abril de 2014

Comecei a pensar, e essa ideia ficava dando voltas na minha cabeça, uma única ideia sem par...era assim, se eu tivesse um cérebro adequado, desses que administram todos os neurônios que nele vivem com uma maestria que só os equilibrados devem ter, fico viajando numa produção de serotonina adequada, uma vida saudável e toda a sorte de ações entediantes...ops, achar que ser normal é entediante seria uma forma de desvio? E se eu tivesse esse tal cérebro hiper-adestrado, será que eu acharia que é possível viver?
Bom, considerando que hoje em dia eu sou meu cérebro, ou ele sou eu dependendo do ponto de vista, ou do lugar que me observo, então percebo que sou um imenso fracasso ambulante, serotonina zero, lítio no sangue quase inexistente, acho que todos os hormônios e demais mecanismos orgânicos que respondem pela felicidade (surreal isso né? Atribuir felicidade a hormônios...)então, acho que o deus que me produziu(considerando que foi isso que me passaram no colégio de freiras, acho que eles não gostaram muito da produção, e esqueceram de derramar as dádivas hormonais em mim, que teimo em ser assim, um tantinho infeliz.

Mas esses mesmos deuses devem ter produzido um bocado desses humanos infelizes, então tiveram que recorrer ao diabo, e eis que surge a indústria farmacêutica, minha mais fiel amiga desde o primeiro surto, milhões de medicações circulando aqui por dentro, mensageiros químicos de diversas cores circulando de um lado para o outro numa confraternização química divertidíssima...alguns luvox(s), uns carbolitium(s), o velho clonazepam(e eis que a cabeça consegue se equilibrar nesse pescoço por sobre o corpo...a questão porém, e que os remédios que ‘curaram’ a cabeça provocaram efeitos incontroláveis no corpo, de novo os hospitais, porém sem a ala psiquiátrica, e as injeções para manter-nos atados a esse lugar de normalidade. Agora, só os remédios dos humanos normais, na fila da próxima doença, esperando um intervalinho para se divertir. Anne Damásio

2 comentários:

  1. Caraca esse texto foi incrivelmente complexo e o reflexo dos humanos deste novo tempo, mas falando de uma forma... sei lá, com sentimentos além das drogas lícitas

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  2. :D essa história de sentir vaza pelos poros...se sentir refém dos medicamentos, meio entorpecida por causa deles, e saber que apesar disso precisa deles!!! :/

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