Essas enfermidades que acometem nossos corpos tão indecifráveis
antes do olhar dos médicos, patologistas, e toda a horda atabalhoada de seres
de branco - que nos olham como se estivesse a meio caminho entre a descoberta e
o medo do que virá - são engraçadas. Retiram pequenos pedaços de nós na busca
pelo que se alojou nesse corpo, ainda seu, mas, já meio cansado de ser perfurado, devassado e
toda a sorte de tentativas de esclarecimentos. Mandam partes suas em recipeintes esterelizados para
laboratórios diversos...e o que lhe resta? aguardar o que virá, porque pela
lógica deles eu sei TUDO que eu não tenho, mas a investigação continua, com ou
sem mim. Fico me perguntando se não seria mais interessante oferecer um resumo
detalhado de tudo que o cristão estaria intuindo, de tudo que pode acontecer, para
depois destilar aquelas falas prontas de: ‘relaxe, vai ficar tudo bem’, ou
ainda, ‘tente não pensar no pior, pedimos esses exames apenas por precaução’,
alguém explique para esses cristãos que fazem saúde que isso aqui não é um
exame de sangue e que ter o seio furado cinco vezes para uma anestesia, não sentir a incisão, mas perceber os movimentos, ouvir aquele barulinho de carne sendo queimada nos momentos finais da tal cauterização(que eu achava que estava restrita a reconstituição dos cabelos) não é
super tranquilo, ainda mais com o bafo do outubro rosa na sua nuca. Para piorar,
e me fazer lembrar que eu odeio 2013 com todas as forças que ainda restam, os
sintomas da depressão resolvem fazer parte desse banquete canibalesco, nunca
me senti tão disputada(em alguns momentos essa maldita veia depressivo-suicida
clama por um resultado bem trash, e já começa a programar o funeral e as divisões
do que não deu tempo de acumular), e
enquanto eu me analisava, descubro que não sei quem sou, ou o que faço
por essas paragens insólitas...preocupada com minha incapacidade existencial,
abro a guarda e então, um intruso surge, e entra em mim, via mama esquerda,
diacho, já não basta o governo mamando nas minhas tetas? Anne Damásio
Fotografia: Laura Zalenga
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