sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Esse corpo ainda me pertence?



Essas enfermidades que acometem nossos corpos tão indecifráveis antes do olhar dos médicos, patologistas, e toda a horda atabalhoada de seres de branco - que nos olham como se estivesse a meio caminho entre a descoberta e o medo do que virá - são engraçadas. Retiram pequenos pedaços de nós na busca pelo que se alojou nesse corpo, ainda seu, mas, já meio cansado de ser perfurado, devassado e toda a sorte de tentativas de esclarecimentos. Mandam partes suas em recipeintes esterelizados para laboratórios diversos...e o que lhe resta? aguardar o que virá, porque pela lógica deles eu sei TUDO que eu não tenho, mas a investigação continua, com ou sem mim. Fico me perguntando se não seria mais interessante oferecer um resumo detalhado de tudo que o cristão estaria intuindo, de tudo que pode acontecer, para depois destilar aquelas falas prontas de: ‘relaxe, vai ficar tudo bem’, ou ainda, ‘tente não pensar no pior, pedimos esses exames apenas por precaução’, alguém explique para esses cristãos que fazem saúde que isso aqui não é um exame de sangue e que ter o seio furado cinco vezes para uma anestesia, não sentir a incisão, mas perceber os movimentos, ouvir aquele barulinho de carne sendo queimada nos momentos finais da tal cauterização(que eu achava que estava restrita a reconstituição dos cabelos) não é super tranquilo, ainda mais com o bafo do outubro rosa na sua nuca. Para piorar, e me fazer lembrar que eu odeio 2013 com todas as forças que ainda restam, os sintomas da depressão resolvem fazer parte desse banquete canibalesco, nunca me senti tão disputada(em alguns momentos essa maldita veia depressivo-suicida clama por um resultado bem trash, e já começa a programar o funeral e as divisões do que não deu tempo de  acumular), e enquanto eu me analisava, descubro que não sei quem sou, ou o que faço por essas paragens insólitas...preocupada com minha incapacidade existencial, abro a guarda e então, um intruso surge, e entra em mim, via mama esquerda, diacho, já não basta o governo mamando nas minhas tetas? Anne Damásio

Fotografia: Laura Zalenga

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