Tenho esse hábito estranho de morrer um
pouquinho todos os dias, a parte isso sobrevivo para além do que se foi, o
estranho nesse ritual simbolicamente experienciado é as centenas de pedaços que
ficam pelo chão, normalmente pele, mãos, olhos, pedaços do cérebro... Não sei
quando esse fato deixará o reino do simbólico transformando-se em toda a sua
literalidade, mas pensar nisso me provoca um certo medo, que preferia não ter,
tenho aprendido que se não posso ficar por mim, por causa dessa mania de
caminhar sem pele por aí, tenho que ficar pelos meus e os que me elegeram parte
e parcela das suas vidas. Uma outra sensação estranha porém meio purgativa, é
que nessa de sair por aí sem pele, sinto-me
constantemente desmanchar, e ainda não identifiquei esse líquido a meio caminho
entre amarelo e vermelho, penso ser
sangue e algum tipo de gosma interna que escorre ao longo do meu corpo em
profusão, não compreendo como os sujeitos que andam comigo não veem isso que
escorre, não ouvem os barulhos que a minha cabeça faz, não sentem o maldito
odor que exala através da minha pele desse bicho que se esconde na minha perna
direita e a noite sobe para a cabeça para seu banquete canibalesco...Mais
partes perdidas do que eu não sei quem sou! Anne Damásio
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