segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Duplo movimento...

À margem de mim eu me observo, nunca concluo, já trago nas costas sacos pardos com escolhas erradas, derramei algumas pelo caminho para torna-lo mais leve. Decorrente dessas escolhas arco com aquelas que são parte concreta do que foi escolhido, me imiscuo de lidar com o lado torpe da vida, bem Rubem Alves, queria tanto que o poder fosse retirado das garras retorcidas desses sujeitos doentes, e oferecessem-no à ternura, à delicadeza, ao que acalente à alma. Não faço parte, não sei caber em receitas prontas de como ser, não sei empilhar as dores uma após outra, armazeno tudo em uma bagunça toda minha, junto com os viveres da próxima dor. Não me deixarei engolir pela burocracia revestida de facilidade. Não falarei senão com quem quer me ouvir. Não alardearei minhas angústias a quem pode se pendurar nelas e me levar junto. Tenho consciência de que não cabendo em mim, sairão dos meus olhos e da minha boca essa sobra, isso que escorre lavando a tudo que vê pela frente, que quer afagar as gentes, e nunca pisar nas pessoas, a vida já faz isso com uma maestria inigualável. Me fogem junto com isso que escapa pelos olhos, os sonhos, que deixei adormecidos no canto esquerdo da minha alma, e de tantos anos hibernando morreram de inanição, tento trazê-los de volta a vida, talvez assim consiga a paz que procuro sem encontrar, me ocorre que procurei nos lugares errados até então, que a urgência que me acompanha me atropelou.  A vida assombra meus dias enchendo-os de morte, as caras dissimuladas nos corredores, a mania de espreitar pelo canto do olho. Quero estar em mim entre aqueles que sei que estão dispostos a uma abertura de espírito para me receber. Fujo sistematicamente da vileza que bateu outro dia na porta da sala, tenho uma urgência de paz que não combina com a necessidade dela. Preciso tornar claro que não me enquadro em formulas de bem viver, identidades prontamente forjadas, comercial de margarina. Se ser livre é não se render, não lançar mão de conceitos apaziguadores e se colocar em posição de abertura a mudanças que ensejem paz. Então eu sou/estou livre. Anne Damásio


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